A morte do cisne.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012 0 comentários
Pedro saiu de sua casa para encontrar os seus amigos de rua. Ele saiu sem se esquecer por nenhum momento do seu amor.
Nas ruas ele era o demônio; roubava, batia, falava mal dos civis. Ele gostava de estar com sua gangue, meninos de quatorze a vinte e um anos, todos colegas de infância. Juntos já vivenciaram tantas e tantas situações intensas que já não ligavam para as consequências.
Naquela noite Pedro estava na liderança e foram para o encontro de problemas.

Renato ficou para a última aula de balé, ele teve que trabalhar até mais tarde. Após o termino de sua aula tirou sua roupa e guardou suas sapatilhas na mochila. Ele saiu da academia sem se esquecer por nenhum momento do seu amor.
Bailarino por amor, Renato nunca foi um cara muito descolado ou popular. Tinha conseguido mais que um amor, mas também uma amizade verdadeira. Não precisava de nada além disso. Sua vida era boa e ele não sentia mais vergonha em dançar. Já tinha dezessete anos e as coisas pareciam ser menos difíceis de lidar ultimamente.
Naquela noite Renato estava sozinho e a procura do conforto da sua cama.

O que eles não sabiam é que o destino havia programado um encontro para os dois, e aconteceu de que a gangue de Pedro encontrou Renato sozinho sob a fraca iluminação das ruas. Viram nele um alvo fácil para suas injurias. O bailarino entendeu o que estava para acontecer ao ver o grupo barulhento que vinha na sua direção, mas não havia muito mais o que ser feito. Ele tinha que seguir.
Os garotos abordaram o rapaz e ordenaram que ele passasse a sua mochila e abrindo-a encontraram suas coisas do balé. Nesse instante começaram as piadas. Todos riam e gritavam que o rapaz era gay, veado, entre outros nomes. Renato já havia passado por isso antes, de maneiras diferentes, ninguém compreendia que balé era uma parte de sua vida e não a sua opção sexual.
Eles empurraram o garoto que caiu no chão. Todos estavam se divertindo, todos menos Pedro. Pedro estava com uma fúria incontrolável. A idéia de que o garoto pudesse ser homossexual enojava-lhe, e desse nojo surgiu à agressão. O líder da gangue começou a bater violentamente no jovem caído no chão. Seus amigos assustaram de inicio com a brutalidade. Pedro dava socos e pontapés, gritava palavras de preconceito, dizia que gay não merecia viver.

A dança prosseguiu num embalo penoso. Os urros de dor do dançarino mostravam seu esforço. Os movimentos eram imprecisos e os espectadores estavam apreensivos.  Pedro, o dançarino das ruas, não queria provar nada, ele só queria dançar. Já o outro dançarino, o dos palcos, só conseguia pensar no seu amor.  Não queria morrer sem ver sua namorada de novo, ele a amava. E assim foi a dança por algum tempo.  Ela só terminou quando Renato ficou completamente ensangüentado e inerte ao chão. Com medo o público correu, não queriam ser presos.
O agressor ficou olhando para sua vítima no chão e uma lágrima escorreu do seu rosto. Ele também não esqueceu por nenhum momento do seu amor, o homem que ele nunca teria em seus braços.