Sengue Negro: parte 1

quarta-feira, 22 de agosto de 2012 1 comentários
Primeira parte do conto de suspense Sangue Negro.

Advertência: Este conto contém palavreado chulo e pode haver violência, descriminação racial, dentre outras formas de agressão. 
Esse conto não expressa a opinião do autor sobre nenhum dos temas abordados. 

Cama vazia

domingo, 19 de agosto de 2012 0 comentários
Depois de toda a algazarra a casa morreu. Nenhuma voz ou grito, gemido ou pedido. Silêncio do quintal ao quarto.
Andei por aqui e por ali procurando vestígios de quem esteve na casa, quem eram as pessoas que na euforia me puseram a dançar e cantar. Nada, ninguém. Nenhuma pessoa, nenhuma palavra. Não havia ninguém.
Me pus a pensar sobre o que eu senti e se fora real, afinal: Eu não estava sozinho, estava? O problema é que nada me recorria. Sabia que eram meus amigos, os melhores, e que a noite fora maravilhosa. Mas depois que tudo se vai, depois que o vinho seca, que a carne esfria, a sensação é de que nunca houvera ali qualquer celebração.
Das lembranças distorcidas na madrugada havia uma em especial que me incomodava. Minha cama estava vazia. Mas oras, não estava eu acompanhado? Não havia um homem no meu quarto? Onde fora parar? Nada fazia sentido.
Dei mais algumas voltas, recolhi copos e talheres sujos. Tentei calcular o grau de destruição, mas a verdade era que eu não me importava.
Fui até lá fora e procurei a lua, mas nem esta estava mais lá. Ninguém, somente o vento estava ali, e ele sussurrava maldades, zombava da minha solidão. Fechei a porta e deixei pra lá o enganador.
Subi incrédulo de que eu estava realmente sozinho. A cama vazia não mentia.
Me deitei, porém o gelo que só um colchão sem gente pode segurar estava ali. Inquietei-me, não conseguia ficar ali, sozinho. Eu não queria dormir só. Mas a cama estava vazia e não havia homem ali que dividisse meu leito.
Aquele cheiro de motel estava impregnado nos meus lençóis e eu sabia que aquelas curvas desenhada sobre eles não eram minhas, mas sim de um outro alguém. A cama não esteve vazia toda noite. Então por que agora estava?
Levantei, fui andar. Pensar um pouco, talvez ouvir uma música. Escrever.
Mas dormir já não podia, nunca mais eu iria dormir. Aquela cama vazia ficará para sempre sem meu calor. Aquele gelo, frio de ausência, iria permanecer lá, ninguém mais deitaria lá. A cama vazia permaneceria vazia. Sem mim. Sem ele. Sem nós.

Uma noite. Uma amiga.

sábado, 18 de agosto de 2012 0 comentários


Empatia? Não sei. Talvez seja essa a palavra que eu possa usar para com a Carla Diniz Alvim.
Essa mulher distinta, dona de um jeito único, me cativou de uma maneira singular.
Não bateu a primeira vista, mas quanto mais eu a conhecia, mais eu gostava.
Descobri nela muito de mim, uma parte obscura e negada em mim. Tudo o que era negado e velado em mim era nela exposto e livre. E era assim que ela atuava sobre mim, como raios de sol que vêm para revelar o que se esconde sob a penumbra.
Nossa amizade surgiu de maneira leve e natural, e vem se consolidando sem grandes esforços.
Amo-a como os ventos amam os cabelos.
Minha amiga Lésbica e ativista é meu sinônimo de liberdade.
Se hoje falo de homens, se hoje sou livre, é porque um dia ouvi Carla falar da vida com beleza e naturalidade.
Sinto-me feliz em tê-la ao meu lado. Em poder mandar uma mensagem sabendo que será ela minha receptora.
Espero que isso não morra, e que essa guerreira vença muitas outras batalhas.
Quero poder, lá na frente, dizer:
"Essa vadia é minha amiga."

2 Beijos do seu amado, Arthur Fortes.


(Pequeno texto retirado do livro "Recipiente" escrito num retorno embriagado para casa).

Só queremos ser felizes.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012 0 comentários

É engraçado pensar que a busca da felicidade é algo constante na nossa vida. Mais curioso ainda é pensar que se nesse exato momento pararmos de procurá-la já a teríamos encontrado. Estaria aqui, do nosso lado. Num dia ensolarado, num café com leite, no sorriso de uma criança, na água que bebemos. Fragmentos de verdadeira felicidade se juntariam no mosaico da vida, e de uma maneira prática seriamos de fato felizes.

Não sou diferente de ninguém, eu só quero ser feliz. Nessa busca torta por uma felicidade desconhecida machucamos quem não queríamos, descobrimos outras facetas de nossas personalidades. Boas também são algumas surpresas, como descobrir que o simples fato da pessoa amada te olhar faz bem pro coração.

Procurando ser feliz nos transformamos continuamente, para tentar atingir o ápice daquilo que entendemos como felicidade. Aquele que nunca virá. Mudamos o cabelo, a roupa, os amigos, os parentes, de casa, de profissão, de princípios. Tendemos a externar, em "outrar", a felicidade. E por "outrar" eu quero dizer tornar outro, fazer com que a felicidade sempre esteja como alvo naquilo que ainda não temos. Ou seja, queremos muito algo até que conseguimos, imediatamente a felicidade abandona este algo e transfere-se para um outro, alguma coisa que ainda não nos era percebido. Desse modo a insana jornada em busca da felicidade suprema nunca termina.

Alguns descobrem isso a tempo e decidem contentar-se (contentemente, e sim isso é possível) com aquilo que já adquiriram. Seja num matrimônio, numa conquista material, num nível espiritual. Pessoas verdadeiramente felizes por simplesmente estarem vivas mais um dia.
Regressão também acontece, e podemos perceber que essa felicidade nada mais era além de uma ilusão forçada por nós mesmos para não termos que nos desgastar atrás da verdadeira felicidade.

Ser feliz é possível. A felicidade não é sorrir o tempo todo, não é ter rios de dinheiro, não está num corpo sarado. Estas coisas nada mais são do que reflexos da felicidade. A verdadeira felicidade é poder parar. Parar de sofrer, parar de querer, parar de ter que ser, parar de pensar, parar de chorar, parar de rir. Ser feliz é não depender de nenhuma dessas coisas para saber compreender as coisas que nos cercam. Abandonar o olhar unifocal e parcial para abranger novos horizontes. Ser feliz é ser humano de fato, e não esta máquina de produzir sonhos que nós nos tornamos. Ser feliz é ser, e não querer ser.