Cama vazia

domingo, 19 de agosto de 2012
Depois de toda a algazarra a casa morreu. Nenhuma voz ou grito, gemido ou pedido. Silêncio do quintal ao quarto.
Andei por aqui e por ali procurando vestígios de quem esteve na casa, quem eram as pessoas que na euforia me puseram a dançar e cantar. Nada, ninguém. Nenhuma pessoa, nenhuma palavra. Não havia ninguém.
Me pus a pensar sobre o que eu senti e se fora real, afinal: Eu não estava sozinho, estava? O problema é que nada me recorria. Sabia que eram meus amigos, os melhores, e que a noite fora maravilhosa. Mas depois que tudo se vai, depois que o vinho seca, que a carne esfria, a sensação é de que nunca houvera ali qualquer celebração.
Das lembranças distorcidas na madrugada havia uma em especial que me incomodava. Minha cama estava vazia. Mas oras, não estava eu acompanhado? Não havia um homem no meu quarto? Onde fora parar? Nada fazia sentido.
Dei mais algumas voltas, recolhi copos e talheres sujos. Tentei calcular o grau de destruição, mas a verdade era que eu não me importava.
Fui até lá fora e procurei a lua, mas nem esta estava mais lá. Ninguém, somente o vento estava ali, e ele sussurrava maldades, zombava da minha solidão. Fechei a porta e deixei pra lá o enganador.
Subi incrédulo de que eu estava realmente sozinho. A cama vazia não mentia.
Me deitei, porém o gelo que só um colchão sem gente pode segurar estava ali. Inquietei-me, não conseguia ficar ali, sozinho. Eu não queria dormir só. Mas a cama estava vazia e não havia homem ali que dividisse meu leito.
Aquele cheiro de motel estava impregnado nos meus lençóis e eu sabia que aquelas curvas desenhada sobre eles não eram minhas, mas sim de um outro alguém. A cama não esteve vazia toda noite. Então por que agora estava?
Levantei, fui andar. Pensar um pouco, talvez ouvir uma música. Escrever.
Mas dormir já não podia, nunca mais eu iria dormir. Aquela cama vazia ficará para sempre sem meu calor. Aquele gelo, frio de ausência, iria permanecer lá, ninguém mais deitaria lá. A cama vazia permaneceria vazia. Sem mim. Sem ele. Sem nós.

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