Dois ursos e um veado.

sexta-feira, 25 de maio de 2012
ALERTA!

Em respeito aos leitores deste blog, é meu dever alertar que o conteúdo deste conto pode, de alguma forma, ser ofensivo e contêm temática adulta. Logo, aconselho apenas para maiores de 18 anos, e que leiam como leitores críticos, e não trolls.
Não esperava começar a maratona de maneira tão tensa, mas foi sobre este lado que quis começar.
Sem maiores delongas, o texto:
Já era meia noite, e com alegria Alex foi se arrumar. Tomou seu banho, vestiu sua camiseta polo mais apertadinha, para ressaltar o peitoral, que apesar de ser um cinquentão, ainda tinha tudo durinho. Aquele coroa passava duas horas por dia enfiado numa academia, malhando todo o seu corpo, na esperança de que a idade não o alcançasse.  Bom, de certo modo ele conseguiu. O empresário tinha um corpo invejável, porém o seu rosto carregava o peso da idade. As rugas, as marcas de expressão, os lábios frouxos. Tudo o entregava. Ele vestiu suas calças jeans da Diesel e calçou seus tênis de mola. Na frente do espelho ele agora via um garanhão. Alisou seu cavanhaque tingido de preto e borrifou algum perfume caro no pescoço. Estava pronto para a noite.
Ele silenciosamente saiu do quarto onde sua esposa já dormia, passou apagando as luzes da casa, e com um beijinho sobre o rosto dos filhos deixou sem pestanejar o lar.
Alex foi para o seu carro e já telefonou comunicando:
-Tudo pronto. Vai para a sua porta que eu estou indo te buscar.
Antes mesmo das onze, Didi já estava bebendo com os amigos. O rapaz de vinte e dois anos, que cursava alguma coisa relacionada à economia numa faculdade particular qualquer, paga pelo pai, era uma beleza só. Tinha os cabelos castanhos cortados de maneira única, jovial. Seu sorriso era leve e sedutor, e quando lançado acompanhado de um olhar, conseguia conquistar a qualquer um. O garoto, que era homossexual, brincava com seus amigos de apalpá-los e fazer comentários do tipo “Vem cá pra você ver, gostoso”. Aquilo era de fato uma brincadeira infantil, já que todos os presentes ali já haviam sidos comidos por ele. Didi não perdoava uma alma se quer. O garoto era uma máquina sexual.
Ele descobriu tarde sua homossexualidade, e por esse motivo acabou se tornando voraz, no entendo de compensar o tempo perdido. Adentrou há alguns anos no Circuito Gay, lugar combinado previamente através da internet, onde os garotos de programa, ou simplesmente PG, ficam nas calçadas e os homens mais velhos – Mariconas, como os garotos os chamam- ficam circulando com seus carros e convidando para que eles entrem nos veículos.
A vida de garoto de programa era uma delícia para Didi. Ele, que só ia à faculdade para fazer uma social, não tinha muito dinheiro. Os estágios pagavam uma miséria, e era de seus programas que vinham suas roupas caras e óculos de marca. Todos os finais de semana, Didi saía de casa dizendo estar indo para baladas ou qualquer outra coisa do tipo.  Sua mãe já havia desistido de impedi-lo, e seu pai não se ligava muito nessas coisas. Gostava de ficar vendo tevê até altas horas da madrugada, sentado sobre a mesma velha poltrona. Didi levava uma vida boa. Os programas feitos como PG eram rápidos. E por vezes ele se apoderava de um celular dando sopa, ou de algumas notas a mais da carteira de uma maricona desatenta. Ele estava se aquecendo com os amigos para partir para o Circuito Gay daquela noite.
Alex estava indo buscar Ricardo, um amigo do trabalho. Depois de descobrir que o amigo também pulava a cerca, como bom companheiro que era não podia deixar de convidá-lo para farrearem juntos.
-Não acredito que por todo esse tempo você contratava garotos de programa de anúncios de jornal. –debochou Alex – Você mal pode esperar para ver o Circuito Gay. Lá você pode olhar para aquelas delícias antes de pagar. Sem surpresas desagradáveis.
-Deve ser realmente um sonho – completou Ricardo – Todos aqueles paus novinhos, um sonho!
-E não é só isso, -prosseguiu Alex – qualquer trocado os satisfaz. Houve casos de a bicha gostar tanto do meu pau que ela não me pediu dinheiro.
Os olhos de Ricardo brilhavam frente aos contos do amigo. Como ele viveu por tanto tempo, tendo que dar desculpas para a esposa para poder ir até motéis com seus amantes. “Não, dava muito trabalho!” Dizia a si mesmo animado com a nova situação.
Eles continuaram a conversar sobre seus delírios eróticos com os jovens garotos de programa, e do quanto gostavam de comê-los. Ambos concordavam sobre muitas situações familiares, como quando os amigos dos filhos vão visita-los em suas casas. As bocas salivam, a vontade de assediar é grande, diziam eles.
Didi já estava levemente bêbado, ele sentia como um incentivo para o trabalho. Por vezes usava algumas drogas, como ecstasi e cocaína. Algumas mariconas eram extremamente ridículas o que demandava certa abstração para que ele pudesse realizar o serviço com sucesso. Algumas eram realmente boas. Didi contava para seus amigos as boas picas que já encontrou por suas noites. Eram seguranças, porteiros, mendigos, playboys, pré-adolescentes, adultos.  Cada um com seu pedaço do céu.
Sabendo o caminho, Didi ao chegar ao ponto de encontro, se posicionou num lugar visível da calçada. Pela rua, vários carros já circulavam. Havia carros de todos os preços e tipos, começando de Fiat e terminando em BMW. Todos aqueles homens, casados ou solteiros estavam ali por um motivo; anonimato. Eles, durante o dia levam uma vida normal e parada, trabalham e estudam, comem e dormem, esperando pelo momento de encontrar com seus rapazes. Uma vida miserável de carência e dependência. São homens feios ou gordos, casados ou com alguma imagem social a zelar, e que por esses motivos não conseguem e ou não podem se assumir e arrumar um companheiro. Alguns ainda, não raros, gostam simplesmente do prazer de pagar pelo sexo, de dominar através do dinheiro, por pegar rapazes, corromper vidas. As taras são inúmeras, e quase sempre resolvidas entre o cliente e o PG.
Ao longe Didi viu um carro com dois homens, coisa comum pelos circuitos, e decidiu flertar. Sabia que com dois ganharia mais dinheiro, e no outro dia aconteceria uma rave na qual ele adoraria estar. Estava decidido. Ele pegaria as duas mariconas, daria um trato nelas, talvez um boquete, ou um beijo grego, ou se o convite fosse muito bom, um ménage num motel qualquer o faria essa passar tranquilamente a semana com a grana no bolso. Sinalizou com seu olhar fatal, combando com o seu sorriso malicioso. Não deu outra, Alex veio como um louco, dirigindo na sua direção.
-Ricardo, que bicha linda! –exclamou o motorista.
Os muitos carros que dançavam na rua, fazendo um círculo em movimento, lançavam seus faróis sobre os rapazes, o que por vezes dificultava diferenciar as belezas.
-Um bem gostoso? –indagou Ricardo – Alex, quero comer um rabo hoje.
-Nós iremos, Ricardo. E vai ser o rabo daquele bofinho!
Ele parou o carro do outro lado da rua e esperou que o jovem chegasse até a janela do motorista. Alex abaixou o vidro.
-E aí gostoso? – indagou Didi.
-Aguenta dois, bichinha? –indagou Ricardo com a voz vinda de trás.
-Só se for agora, gato. –respondeu Didi esticando a cabeça para ver o passageiro.
Por um instante toda a malícia do garoto sumiu do sorriso, e no seu olhar um pavor se tomou conta. Antes fosse o típico caso do cliente ruim que volta desavisado no mesmo PG.
Alex olhou para o amigo estranhando a reação do garoto ao vê-lo, e em seu rosto viu o mesmo espanto.
-Diego?! –indagou Ricardo com a voz quase desaparecendo.
-Pai?!- Engasgou o rapaz.

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E aí o café estava bom?