Se eu não me dou bem
em grupo, se eu não sei passar a bola, a culpada é minha mãe! Ah
se ao invés da natação eu tivesse feito algum esporte em
equipe.Veja bem que por cinco longos anos eu fiquei sozinho nadando
numa raia individual.
Quando na água, eu não
pensava em nada além de mim. Era eu e minha mente, flutuando entre
braçadas e pensamentos. Sim, era só eu e a minha cabeça louca. Eu
não tinha que passar a bola, não tinha que dar suporte a ninguém,
não tinha que pedir ajuda, não tinha que me doar a nada. Foram
cinco longos anos de auto suficiência.
Lá, imergido na água e em mim mesmo o
assunto se matinha estrito entre o objetivo e minha força de vontade
(e física) para cumpri-lo. Ou seja, quando desmotivado eu poderia
simplesmente fazer corpo mole, nadar devagar, ou simplesmente não
nadar. Era eu assumindo meus erros sem maiores consequências.
Ah, mas a vida não
quer nadadores e sim jogadores de futebol. Você tem que saber jogar
com outras pessoas. E eu não aprendi. Aprendi a ser o jogador de
futebol nadador. Mas quem quer um nadador no time de futebol?
E a culpada é minha
mãe!
No relacionamento a
gente divide a raia com outra pessoa. Mas como é difícil nadar
levando braçadas no rosto. E por vezes a pessoa infeliz nem nadar
sabe, e apenas se agarra em seu pescoço levando ambos para o
fundo do poço. Pensei por momentos em transformar a natação em
nado sincronizado, mas criar sincronia com um estranho me parece
burro. Não quero nadar igual. Quero aprender novas maneira de se
portar sob a água. Desisti de dividir minha raia.
Os amigos por vezes se
contentam em nadar de brincadeira. E isso sim é legal. Pular de
bomba na piscina, flutuar despreocupado, por vezes mergulhar. Seria
ótimo se conseguíssimos sempre ter lazer na piscina. E como
seria...Mas a água é muito fria para alguns, outros preferem tomar
sol, e alguns ainda nem gostam de clubes. Problemas certos.
Quando eu não quero
falar com ninguém, não quero contato, basta que eu mergulhe minha
mente e inunde meus ouvidos de água. Estou agora noutro plano! De
quando em vez fico boiando inanimadamente, fingido estar morto. Fico
o máximo, que os meus pulmões me permitem, deitado com as costas à
superfície. Mas isso incomoda quem me procura. Ninguém quer falar com
um defunto, ou ainda com alguém que tem os ouvidos cheios de água.
Eles me querem seco e atento. Dizem que fujo dos problemas, que nadar
para longe não é a solução.
No trabalho vivo dentro
de um copo d'água, como os peixinhos dourado. Dentro da água, porém
sem espaço. Não posso nadar ou imergir. Só fico ali, a mostra.
E a culpada de tudo é
a minha mãe!
Pobre da minha mãe.
Acho que se ela soubesse que este esporte do qual ela gosta tanto me
custaria ser assim, um nadador, talvez ela não teria me feito
pratica-lo. Ela poderia descobrir que atletas são pessoas
determinadas e prestativas, mas que nadadores não podem ser
incluídos nestes méritos. Nós nadamos sozinhos, e para nós.
Oh mãe, por que me fez
um menino que deu com os burros nágua?
Mas eu mudarei tudo
isso quando tiver o meu próprio. Filho meu não colocará os pés em
água que seja! Onde já se viu menino peixe? Não, não. Meu filho
vai ser um atleta completo, homem de valor,saberá dar tudo o que eu
não soube. Será aclamado pela nação, encorajado pelos amigos, e
amado em seus amores.Sim, já posso vê-lo sendo melhor que eu. Ele fará atletismo, e ai dele se quiser do contrário.
0 comentários:
Postar um comentário
E aí o café estava bom?