Oasis

sexta-feira, 2 de março de 2012
Eu estava cansado de caminhar, meus pés descarnados reclamavam da ausência de forças para continuar. Andando naquele deserto eu não conseguia mais me encontrar.
O mundo não era aquele mar de areia, tampouco o céu descoberto, sem abrigo.  Todos seguiam seu caminho por entre as dunas e encontravam o seu Oasis. Todos menos eu. Sozinho no mundo de pedra refinada, com a alma exposta ao sol eu vaguei. O calor alucinante, vertigem de emoção, eu já não distinguia o que falava o meu coração. Dizem que é o próprio homem que se condena a demência, quando a realidade não o satisfaz. Falam que somos nós, com o nosso descontentamento, que transformamos as mais férteis terras dos sentimentos no solo miserável de um deserto. O meu deserto.
Falar que a areia ou o calor são o motivo da minha desgraça seria mentira, já que sob as mesmas condições a vida se prolifera em abundância, entre cactos e lagartos, flores e insetos. Não, o que me condena ao caminhar incessível são as miragens que se formam para mim. Miragens com nomes, nomes de pessoas. Cada uma se mostrando mais belo Oasis que a outra. Porém, ao tentar aplacar a minha sede, percebo-me ingerindo areia. Areia que me enche de desgosto, que me faz pensar que todos os outros Oasis são também ilusões.
No deserto do amor eu não caminho, apenas vago. Vou vagando por entre as miragens, ação que com o tempo torna-se menos penosa. Mesmo sabendo que são miragens, elas se tornam mais reais, mais belas. Por vezes eu quase posso sentir o frescor da água, o sabor de uma fruta, o aroma de uma flor. Essas ilusões se tornam mais consistentes, talvez porque eu as faça assim. Talvez porque os longos anos no deserto me fizeram crer que na verdade nunca haverá de fato um Oasis. Algumas miragens me disseram ser verdadeiras fontes de água pura, e eu por momentos  de inocência acreditei. A ilusão entorpece-me os sentidos e eu me envolvo, perco-me nos delírios de um corpo quente sobre o meu. De quando em vez sinto-me sóbrio e descubro que este corpo nada mais é que a própria areia escaldante brincando sobre mim. E assimilando novamente a realidade eu me afasto rumo ao incerto.
Mesmo sem grandes mudanças de cenário, os desertos podem ser perigosos, como quando as benditas tempestades de areia vêm para fustigar a alma. São vultos, lembranças, arrependimentos. A nuvem asfixiante que se forma me faz repensar decisões, arrepender-me de não ter me entregado de corpo, alma, e sangue à última ilusão. Mas mesmo dolorosa, mesmo longa, a tempestade acaba após algum tempo. E com o céu claro sobre a minha cabeça eu consigo pensar novamente.
Não sei se de fato existe um Oasis onde eu poderei descansar os meus pés. Ainda não descobri se as pessoas que cruzaram o meu deserto já encontraram seus Oasis, ou se ainda estão perdidas atrás de miragens como eu. Estou longe de compreender se eu sou um Oasis andante, ou se sou apenas mera ilusão. Só sei que nesse deserto desolador de pensamentos conflitantes eu me encontro de pé. E com as forças que me restarem eu caminharei rumo ao que o deserto tenha me reservado. Eu vagarei até encontrar; Meu Oasis.


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