Oi, eu te amo.

sábado, 17 de março de 2012

Ao sair da faculdade Paulo decidiu comprar uma flor para sua namorada. Ele encontraria Andrea naquela noite. Ele estava muito feliz, era sempre assim quando ia de encontro a sua amada.  Estavam juntos há quase dois anos, se conheceram assim; ao acaso, coisa da vida. Um dia foi “oi”, num outro qualquer “eu te amo”.  Dizem que o amor é assim mesmo, avassalador. E com ele não foi diferente.

Caminhou cantarolando com sua florzinha em mãos, só parou frente à portaria do prédio. Tocou o interfone e esperou que ela abrisse o portão. Subiu os vários lances da escada pensando sobre um trabalho que tinha de apresentar ainda naquela semana.   A porta estava aberta, como sempre, e Andrea na porta vestindo seu pijama. Paulo entrou dando um beijinho na namorada.
-Trouxe essa flor para você! –disse carinhosamente.
-É linda – disse ela pegando a flor e colocando-a de lado sobre a mesa.
-Nossa, eu to com uma raiva daquela velha trambiqueira!
-Ela ainda não deu aula?
-Nada! Só fica enrolando na sala de aula. Dando um risinho de bruxa velha. A nem Andrea, tá osso viu... -reclamou sentando-se no sofá, o bom e velho sofá da sala.
-Cê quer alguma coisa?
-Não, já comi.
-Paulo.
-Oi?
-Eu preciso falar com você uma coisa...
-O quê? Eu fiz alguma coisa? Eu não gosto dessa coisa de “ter que falar”.
-Não, não. Você não fez nada. – respondeu de acordo com o planejado, ela passou a mão sobre o cabelo do seu namorado e sentiu pena por um instante.
-Então o que foi?
-Eu acho que não gosto mais de você.
O silêncio se fez presente. Paulo sabia que não havia feito nada de errado, o que tornava incompreensível aquela frase.
-Como?
-Eu não sei. Eu só não sinto mais o que eu sentia antes.
-Você tá terminando comigo? –perguntou ele cessando o carinho na cabeça.
-Eu não sei, acho que é isso.
-O que está acontecendo?
-Já disse que não sei! Eu to estudando de mais, minha vida esta voltada para a minha carreira. Eu não consigo mais situar “nós” nela. Você entende?
-Entender? Andrea, você vai jogar fora quase dois anos de relacionamento assim? Do nada? Por nada?
-Por nada? Como assim? Claro que é por algo! Por mim, oras.
-Mas isso é egoísmo! Você não esta me levando em consideração em momento algum. Então é assim?
-Eu já vinha pensando nisso a muito tempo, Paulo. Eu gosto de você, adoro estar com você! Mas a vida não pode ser simplesmente isso, estar junto por estar. Eu quero me sentir viva, e entre nós isso não tá rolando. Somos o típico casal de namorados que não sabem dar um peido sem que o outro esteja perto para cheirar! Pra mim já deu.
-Então você só quer espaço? Porque isso eu posso te dar! Não precisamos ficar tão juntos.
-Não é isso, não é espaço que eu quero.
-Então o que é? Vamos conversar. Tenho certeza que descobriremos uma solução.
-Não, Paulo.
-A qual é, você não quer nem tentar? Você não tinha feito nenhuma reclamação até hoje, e já quer terminar de uma vez por todas?
-Bem...eu...Ai, eu não sei. Eu só estou expressando o que eu sinto, ou melhor, o que eu não sinto por você.
-Você se apaixonou por alguém?
-Não. Não tem nada a ver com isso.
-Fale a verdade.
-Não é isso! Eu não preciso ficar pulando de galho em galho, você não me entende.
-Agora eu não te entendo? Antes eu era a única pessoa quem te entendia, e hoje eu não te entendo?
-Você me entendia, no passado. Minha cabeça mudou muito, Paulo.
-Quando foi isso que eu não vi? O que esta acontecendo? Eu não estou entendendo.
-Olha, não dá mais. É isso.
-Você precisa de espaço. Quer repensar sua vida. Ta querendo focar na carreira. Eu te entendo.
-Não é nada disso. Eu não sei explicar, só sei que não quero mais isso...
-Isso? Eu não fui bom o suficiente para você? Você não se sentia feliz comigo?
-Me sentia sim, só que não mais. Eu não sei algo se apagou.
-Venha aqui, vamos dar uma chance, nós podemos fazer diferente. Eu posso mudar.
-Não, Paulo. Eu não quero tentar nada. Por favor, me deixe sozinha.
-Você é maluca! O que esta acontecendo? Fala comigo!
-Não grita comigo! Eu não sei o que eu quero, mas sei o que eu não quero. Eu não quero mais você, me respeite.
-Isso não é jogo de um só, eu também estou aqui. E eu? Como eu fico? Andrea eu te amo!
-Ama nada, a gente tá é se enganando. Eu não sou a donzela que espera por um príncipe, Paulo.
-Não faz isso... Eu passei tanto tempo procurando por você, eu fiquei tanto tempo na solidão. Não me deixe Andrea.
-Desculpa.
Os dois se abraçaram, os olhos minando água. A mistura de sentimentos, a dor de ambos pela perda. A perda de uma identidade, a perda de um sentimento, de um amigo, de um lugar, de um balanço, a perda de alguém.
-Não me deixe. Não me deixe.
-Paulo, eu não posso fazer isso. Não seria bom pra nenhum de nós. Para eu te fazer feliz, eu preciso estar feliz. E eu não estou.
-Não faz isso comigo. –Paulo caiu ao chão entre soluços e choramingo. A sua dignidade, seu moral,  seu orgulho, postos de lado. Ele era uma criança.
-Não faça você isto comigo. –pediu ela segurando ele delicadamente pelo queixo, levantando sua cabeça – Não precisa ser assim. Eu ainda gosto de você.
-Então fica comigo! Por favor, eu vou melhorar, vou ser melhor com você!
-Mas você não fez nada de errado. Nada errado! Sou eu, eu preciso que você saia para eu me encontrar. Não me reconheço mais.
-Não, não. Andrea, só eu posso te fazer feliz, você vai se arrepender.
-Acontecerá o que tiver que acontecer. Posso me arrepender sim, mas é um risco que eu pretendo correr. Agora saia, Paulo. Chega você esta me deixando mal.
-Eu estou te deixando mal? –a fúria tomava conta do jovem rejeitado – Você é uma cretina egoísta! Como eu pude me apaixonar por alguém como você? Na primeira dúvida me chuta como um cachorro. Andrea, você não deveria ter feito isso!
-Você esta me ameaçando? Saia agora!
-Não faz isso, vamos nos ajeitar. Não é isso que todo casal faz? Brigam sempre, mas acabam percebendo que precisam uns dos outros.
-Paulo saia, por favor.
Ele ficou de pé, e esfregou os olhos vermelhos. O ódio que sentia, mesclado de amor, estava expresso no seu olhar. Não adiantariam palavras, Paulo não entenderia jamais o que Andrea queria. Ele balançou a cabeça negativamente e saiu pela porta do apartamento, batendo-a com violência.
Após ver seu ex-namorado sair, Andrea se desfez sobre o sofá. Ela sabia que havia feito o certo, não poderia sustentar aquela situação. Paulo era bom de mais para ela, ele merecia de fato alguém melhor. Mesmo merecendo, não era o que ele queria. O que ele queria era apenas a sua namorada de volta. Apesar de saber que fora uma completa idiota com o ex-namorado, que culpa tinha ela por se apaixonar por outra pessoa? Não foi por maldade, não foi intencional, mas o amor tem dessas coisas, acontece do nada. Um dia foi “oi”, num outro qualquer “eu te amo”.  O amor ainda existe muito forte, após morrer entre o casal ele se transmuta para memória. Ele se torna imortal. Em memória Andrea sempre amará Paulo, que ironicamente a amou de verdade, mas em memória a eternizou em ódio. Duas faces da mesma moeda que nunca se encontrarão.

3 comentários:

{ Tayane } at: 17 de março de 2012 às 16:18 disse...

Maravilhoso, amei amei amei !

{ Arthur Dias } at: 17 de março de 2012 às 17:54 disse...

Muito bom, muito bom mesmo! Parabéns Muringa!!! Resumindo.... Ficou bom pra caralho!

{ nik } at: 21 de março de 2012 às 08:29 disse...

Muito bom!! Adorei! "Muringa" Deu até vontade de ir na cafeteria de verdade!

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E aí o café estava bom?